domingo, 2 de dezembro de 2007

Eu também mereço ser feliz...

Nos últimos dias, um mundo verdadeiramente novo tem se aberto para mim. Conheci pessoas legais, tive conversas interessantes e esclarecedoras, e aos poucos, sinto que a minha vida vai entrar nos eixos também. Comecei a pensar numa série de possibilidades, que até então, não eram sequer levantadas por mim. Ainda tenho muito o que trabalhar mentalmente porque apesar de tudo, ainda tenho uma grande resistência a várias coisas. A aceitação precisa ser minha em primeiro lugar para que eu possa ser feliz, mas não é fácil. É uma clausura de anos... há anos estou no escuro mesmo, procurando incansavelmente uma chance, a espera de alguém ou algo que fosse um catalisador, para que eu saísse do tranqüilo desespero em que estava. Bem, antes tarde do que mais tarde, como diz a verdade por detrás do ditado popular.

E sinto que esta é a minha hora. É a hora de ser feliz, o momento em que me sinto mais seguro e apesar de saber que não haverá uma aceitação plena por parte de todos, sinto que cansei de esperar, cansei de deixar a vida passar, cansei de estar só quando poderia estar tentando construir algo sólido... por que eu não teria esse direito? Por que parte da sociedade insiste em dizer que é errado, feio ou proibido? Comentei essa semana com amigos que acho o homossexualismo natural, pois é uma situação que não se escolhe. No meu caso, eu sempre soube que era assim. Concluindo, acho que é natural, o problema é que muitas vezes não é socialmente aceito. Para que a sociedade mude, é necessário um trabalho de resistência, afirmação. Todo mundo pode tentar fazer a sua parte. Não que eu ache que todos precisem levantar bandeiras ou escancarar sua “opção” por aí. Mas acho que podemos trabalhar a questão do respeito em nosso dia-a-dia. Eu, como educador, me encontro nas mais diversas situações, relacionados a temas considerados polêmicos. Um dia em sala, um aluno perguntou ao outro:

- O que você faria se soubesse que seu filho é gay? Ele pensou um pouco e respondeu:

- Ele ficaria no cativeiro até gostar de mulher...

Num primeiro momento todo mundo riu. Depois propus um debate. Quis saber a opinião de todos a respeito do assunto. Fizemos vários comentários, até saímos do foco da aula no dia, mas considero importante trabalhar noções de cidadania em sala. Nossa conclusão? “Podemos até não aceitar, mas respeito e tolerância devem ser empregados para todos”. Talvez eles nem lembrem desse dia, talvez tenham se esquecido do debate logo em seguida na hora do intervalo. Mas foi uma tentativa, a minha tentativa de tentar mudar um pouco a sociedade para melhor.

Tenho visto muitos gays tristes na net, com medo da solidão ou do preconceito. No orkut, participei de um debate que mencionava a depressão muito comum no fim de ano, mas que ganha uma noção talvez mais intensa com os gays que muitas vezes não se encontram realizados por “n” fatores. Ter alguém com quem falar, não ter medo de dizer quando se está triste e sempre estender a mão, ser atencioso como amigo, mesmo que através da net são situações legais para enfrentar esses problemas. Todos nós podemos fazer isso. Eu posso, você pode?

Agradeço aos elogios recebidos, mesmo daqueles que leram o blog e não comentaram. Valeu, pessoal! Isso me motiva a continuar.

Não ouvi nenhuma música para escrever, mas li um poema antes de começar. De Cora Coralina, uma alma portadora de muita sensibilidade. Um trecho: “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça”. (Aninha e suas pedras – 1981). É o que estou tentando fazer: recomeçar. Por que não me dar essa oportunidade? Eu também mereço ser feliz! :-)

3 comentários:

JMC disse...

Muito tocante e muito certo seu post!

Acho que todos nós homossexuais passamos pelo drama da aceitação própria e o choque com a sociedade e família!

Vale a pena luta para conquistar seu espaço sendo vc mesmo, eu passei por essa fase que vc está e hoje minha vida está bastante diferente!

Obrigado por suas visitas em meu blog e pelos elogios ao livro!

Abração

O Well Bernard disse...

Olá amigo.

Você compartilha muito das minhas idéias, dos meus sentimentos enfim. Acho que cidadania e as mudanças são efetuadas em pequenas iniciativas e ações. Uma semente de um centimentro gera um flamboyant de oito metros.

Se tudo der certo, em três anos também serei um educador formado. Mas tenho muitas inseguranças, não sei se valerá a pena. Infelizmente estou descrente de ser professor. Mas embora isso, não perdi as esperanças no futuro e nas pessoas.

Um dia teremos a nossa vez.

Unknown disse...

Como sempre você está de parabéns!!! Esse é o caminho, e fico feliz em perceber que não estou sozinho nesta jornada.