domingo, 13 de janeiro de 2008

Quando o amor acontece...

Parte 1

Depois de muito conversar com o Caio no msn, nós finalmente resolvemos nos encontrar. Decidimos que ia ser um sábado e que ele viria a minha casa para almoçar. Caio havia dito que, finalmente, encontrara alguém que valia a pena se relacionar, pois ele já estava cansado de futilidade e sexo fácil. Ignorei o comentário e considerei que a partir dali, ele realmente poderia ser diferente e que poderíamos construir algo juntos. Nós havíamos conversado durante horas, trocado fotos e eu achava que ele poderia suprir toda a falta de afeto que eu sentira até aquele momento.
O meu primo Fernando estava hospedado em minha casa. Quando eu disse na noite anterior que teria um encontro, ele disse que passaria o dia na rua. Iria fazer um concurso no domingo e já na terça-feira voltaria a sua cidade. Ele se definia como bissexual e até me jogara um certo charme quando chegara, interessado mais no fato da minha inexperiência sexual do que nos meus olhos ou papo. “Eu vou combinar algo com a Carol, mas tem como você me emprestar R$ 50?” Fala sério – pensei - mas emprestei, fazer o quê?
Dei uma ajeitada rápida na casa e cozinhei tudo o que havia programado. Eu havia dito a ele que eu mesmo cozinharia, o que ele achara muito interessante e curioso. Fizera até graça: “Você quer me fisgar pelo estômago, né?” - “Casa comigo que eu te dou casa, comida e roupa lavada”, respondi também brincando.
Quando o Caio chegou, tudo estava pronto, inclusive eu. Nunca me sentira com o coração tão cheio de amor, tão bem como naquele momento. Ele foi logo me dando um beijo. Ficamos abraçados por um longo tempo, ali na porta. Eu o convidei para entrar, servi uma bebida e finalmente, estávamos cara-a-cara. Nada mais de virtual, não era celular ou Internet, e era bom, muito bom.
-“Eu achava que você era um pouco mais encorpado... nas fotos você parecia maior”... Menos um ponto, pensei comigo. –“Eu sempre fui assim mesmo, agora é que comecei a malhar”.
Quando servi a comida, mais um comentário:
-“Cara, isso aqui tá muito bom! Você cozinha muito bem...” – Opa! A pontuação volta a ser positiva...
De repente, meu primo aparece:
-“Oi, Primo! Tive que voltar mais cedo... A Carol me deu o maior bolo. Cara! Você fez lasanha???”
O meu primo era um mala mesmo... eu pedira e ele não entendera a relevância desse momento para mim.
-“Esse aqui é o Caio... ele veio me conhecer. Esse aqui é o meu primo, o Fernando.
Eles apertaram as mãos e eu notei uma troca de olhares intensa. Será que eu estava vendo coisas?
Meu primo pegou um prato, comeu mais que todo mundo e monopolizou as conversas. Ele era super gente boa mesmo, engraçado, mas ele estava sobrando ali. O pior é que o Caio parecia estar muito mais interessado nas histórias deles do que nas minhas. Tentei ser o mais natural possível, mas pairava sobre mim uma certa frustração. Fui pegar a sobremesa e quando voltei, os dois estavam combinando de sair à noite.
-“O Fernando tá me falando de uma boate super legal lá no Centro, que toca de tudo. Vamos lá?” – disse Caio.
-“Mas a gente estava combinando de ir ao cinema, lembra?”
-“Você podia abrir uma exceção, primo... eu já vou embora na terça...”
Eu não gostava de boates, mas o Caio parecia querer ir. Que droga!
-“A gente pode passar no shopping antes, o que vocês acham?” – disse meu primo se intrometendo mais uma vez na conversa.
-“Ta bom, depois a gente combina o cinema então, Caio... eu só vou trocar de blusa e calçar outro tênis e a gente já pode sair”.
Eu devo ter ficado, no máximo, uns 15 minutos no quarto. Quando eu entrei na sala, não acreditei no que vi... O Caio, o cara que eu estava interessado, o que ia me fazer feliz, o qual eu finalmente decidira dar uma chance, se beijava com o meu primo...
Eu entrei na sala, abri a porta para a rua e fui embora. Eles se assustaram e o Caio veio correndo atrás de mim, tentando me alcançar.
-“Deixa eu explicar... espera aí...”
E eu corri, corri muito, só queria sair dali. Não deixei ele falar nada. Não tinha o que explicar.
Eu achava que eu nunca mais me apaixonaria antes do Caio aparecer. Eu passara anos gostando de um amigo, mas ele era hetero. Na semana passada, o meu coração se enchera de amor novamente, e eu vira que nada era para sempre. Pelo menos para isso essa decepção servia. Eu era capaz de amar novamente! No entanto, estava confuso. Será que todos nasciam para vivenciar o amor na plenitude? Ou será que para alguns sobraria apenas o amor fraternal? Para mim, pelo jeito, sobraria a segunda opção...

Continua...
Uma inspiração? I will love again - Lara Fabian
"I will love again / Though my heart is breaking / I will love again / Stronger than before / I will love again / Even if takes a lifetime to get over you / Heaven only knows / I will love again..."
Eu continuo suportando o tranco... mas até quando?

2 comentários:

JMC disse...

Caramba, Rod! Ninguém merece passar por isso! Que tremenda sacanagem essa do seu primo! Inmagino como vc ficou!

Eu já passei por coisa semelhante, mas nunca dentro da minha casa com pessoas conhecidas!

Tenha em mente uma coisa, se esse Caio não te respeitou e respeita, ele não te merece mesmo!

Torço por ti! Abração

Unknown disse...

Realmente você me surpreende com a realidade dos seus relatos.MAravilhoso.Seus escritos são de um bom gosto sem igual.
Beijos!!!