domingo, 20 de janeiro de 2008

Quando o amor acontece... Parte 2

Passei a tarde inteira na rua e uma boa parte da noite também. Inventei um monte de coisas para fazer numa tentativa de me distrair, mas não conseguia tirar o Caio da cabeça. Assisti a 2 filmes no cinema, sendo que do segundo eu não lembro de nada. Eu só consegui chorar o filme todo... Ele tentou falar comigo via celular, ligou 5 vezes, mas não atendi nenhuma até que ele, finalmente, desistiu. O que ele iria falar?
Quando cheguei em casa, meu primo não estava. Ouvi o barulho dele chegando às 3 horas da manhã. Para quem faria um concurso às 8 horas, ele estava realmente muito comprometido.
Acordei às 9 horas e meu primo roncava no sofá da sala. Ele não tinha mesmo o menor compromisso com nada. Após um banho rápido e um café da manhã, que tomei bem lentamente, fui para um parque caminhar. Andei por quase duas horas até que resolvi. Sentei embaixo de uma árvore e fiquei observando um pequeno o lago logo a frente. O dia estava lindo, típico de Brasília: aquele céu azul, com pouquíssimas nuvens, o sol forte, a grama bem verde... bem ao lado havia um casal que parecia muito apaixonado. Ela estava encostada numa outra árvore e ele com a cabeça deitada no colo dela. Ela afagava os cabelos dele num gesto de profunda cumplicidade. Ele retribuía beijando a mão dela de vez em quando... se fosse num dia qualquer, talvez a cena me passasse despercebida, mas eu estava bem chateado com tudo o que tinha acontecido. Tentei conter as lágrimas, mas não deu. Baixei a cabeça, sentia me desolado...
- Você está precisando de ajuda?
Levantei a cabeça. Um desconhecido me encarava.
- Eu vou ficar bem, eu só estou um pouco triste...
- Eu vi você de longe e para quem está apenas “um pouco triste” você já está chorando a um bom tempo...
- Vai passar... sempre passa...
- Sempre? Se você souber o que fazer, como resolver, me diz ...
Ficamos ali conversando várias amenidades, ele parecia triste também, mas demonstrava bem superficialmente, ao contrário de mim, já que meus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, entregando-me facilmente.
- O meu nome é Tarcísio, ao seu dispor.
- O meu é Henrique, muito prazer.
- Vamos conversar ali no quiosque? Tomar uma água de coco?
- Tudo bem...
Para que eu levantasse, ele me esticou a mão. Foi aí que eu percebi o quanto ele era atraente. Ele era forte, estava de óculos escuros, branco, a barba por fazer, revelando uns traços finos, lábios bem feitos... eu estava muito carente mesmo. Ele estava tentando me ajudar, estava sendo simpático e não pedia nada em troca, talvez apenas um pouco de atenção e eu achava ele bonito... No quiosque conversamos por quase uma hora. Ele queria que eu falasse o que tinha acontecido, mas desabaria outra vez. Foi ele que abriu o coração ao dizer que tinha sido abandonado recentemente pela pessoa que julgava ser o amor da sua vida. Que doía sim, mas que não valia a pena ficar triste.
- Ninguém merece a sua tristeza...
- Ele não merecia mesmo, não soube me dar valor...
Até então, achei que ele estava falando de uma mulher. Eu fiquei surpreso e ele percebeu, mas continuou a falar, como se não ligasse para mais nada. Trocamos telefones, ele disse que me ligaria. De “precisado de auxílio”, eu acabei sendo o que prestava ajuda, já que o escutei bem mais do que consegui falar.
No caminho, uma borboleta branca passou em frente a mim. Toda vez que a minha mãe via uma borboleta assim, ela dizia: “Boas notícias”. Não devia ser o caso agora... Na porta de casa, Caio me esperava. Eu disse um sonoro “Não quero te ver nunca mais”, mas ele ignorou. Disse que o meu primo havia dado em cima dele o tempo todo, mas pedia desculpa e dizia que podíamos tentar outra vez.
- E você é tão volúvel assim a ponto de ignorar totalmente a minha presença em casa? Foi tão fácil assim se deixar envolver? Eu não tenho mais nada a dizer, você não me deve nada, a gente não pôde começar nada... eu me deixei envolver...
- Pára... você sabe que eu gostei de você, não foi bem assim, eu só não consegui resistir... Podemos continuar a ser amigos então?
- É melhor não...
Entrei em casa sem deixar ele falar mais nada... era triste como uma pessoa podia ser tão importante em uma fase de nossa vida e perder totalmente o significado logo depois. Eu sentia um vazio tão grande ao pensar no Caio...
O telefone tocou. Era o Tarcísio dizendo que tinha adorado conversar comigo, que tinha muito a falar, a me ouvir também. Ele era um coração cansado, assim como eu.
- E aí, vamos sair?
Eu podia ver o sorriso no rosto dele. A minha mãe estava certa. Eram mesmo boas notícias...

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É um conto, mas com muitas manifestações do meu eu...
"Todos somos escritores. Uns escrevem, outros não" - José Saramago :-)

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