quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Para o Oswaldo :-)

Por que eu decidi conhecer o Oswaldo?
Em primeiro lugar, porque a iniciativa partiu dele, foi um pedido de supetão e a surpresa faz bem, pelo menos na maioria das vezes. Em segundo, porque o Oswaldo teve um diferencial: por não ter perfil fake no orkut e por quase não usar o MSN, preferiu conversar via telefone. Nossas conversas rendiam. A última: quase 30 minutos e a minha bateria acabou. Se a minha mãe estivesse perto, ela certamente questionaria: “Mas da onde vocês arranjam tanto assunto?”. Nem eu sei, mas o fato é que eu gostei de falar com ele desde o início. Algumas observações: o nome dele não é Oswaldo... é o nome de “guerra” como ele brinca, sendo que na verdade é o nome do tio que mais gostava. Servidor público, 33 anos e quando me mostrou o orkut oficial, eu descobri que ele era casado...
-“Decepcionado?”
-“Não, apenas surpreso...”
Ele disse ter me encontrado na comunidade do “armário”, num dos tópicos de fórum dos quais participei. Disse ter gostado da minha resposta e ao ver meu perfil, leu meu blog. Disse ter salvado o dia dele pois estava meio deprê quando me leu. Adicionou-me no MSN e após algumas conversas perguntou se eu confiaria nele a ponto de passar o telefone.
-“Juro que não sou psicopata, hehehe”...
Eu confiei (com receio, mas confiei) e foram conversas muito boas. Hoje sai do cursinho e ele me ligou. Surpresa nº 1...
-“Onde você está?”
-“No Terraço Shopping...”
-Se você topar, eu poderia te encontrar aí. Em meia hora... O que você acha?
Fiquei pensativo...
- Eu gostaria muito... adoraria conversar cara a cara – completou ele.
- Então, tá... eu te espero sim.
Fiquei matando o tempo na livraria Leitura, até que ele chegou. Eu já o conhecia por fotos. Como ele tinha saído do trabalho, estava ainda de paletó e gravata e aparentava um certo cansaço. Ele era um tipão mesmo... desculpando-me antecipadamente pela ousadia. Alto, moreno, do tipo grande, com ligeira barriga (“de cerveja e da carne gritando” referência à carne mal passada... eca!), um pouco grisalho, com a barba cerrada. Ele queria tomar café, então eu indiquei o “Formidable” lá no Terraço mesmo. Um ambiente bonito, com decoração legal e boas opções de comida.
Assim que sentamos, ele desatou a falar. Reforçou várias coisas que eu já sabia, mostrou algumas fotos que tinha na pasta (das duas filhas, da casa onde morava, do cachorro e até da esposa). E aí partiu para algumas coisas que eu ainda não sabia...
-“Eu já tive dois relacionamentos com outros caras. O primeiro quando tinha 17 anos com um amigo. E o segundo já depois de 6 anos de casado.
-“E não é muito complicado levar esse tipo de vida dupla?”
-“Que é, é... mas eu não podia deixar esse cara passar. Ele era tudo o que eu queria...”
-“E porque acabaram?”
-“Por que ele me colocou na parede. Disse que eu devia escolher entre ele e a minha família... se ele não tivesse feito isso, acho que ainda estaríamos juntos”.
-“O que você busca?”
-“Eu busco alguém que me queira, que me aceite assim como eu sou”.
-“Que se adeque a você? Ao seu estilo de vida?”
-“Também...”
No MSN, logo que eu soube que ele era casado, eu brinquei dizendo que ele era “canoa furada”. Ele colocou risadas, mas disse que ficou um pouco chateado. Podia até ser, mas ele também estava confuso e também buscava uma chance de recomeçar, de tentar ser feliz.
Era uma situação difícil. Uma das minhas conclusões que até debati com ele, foi a de que eu não vou poder casar, não vou poder ter filhos (ainda que eu os quisesse muito...). Como? De que jeito? No final, eu faria uma outra pessoa infeliz, uma que não tinha nada a ver com tudo o que eu sentia...
Indagado sobre o relacionamento com a esposa, ele disse que gostava dela, que se dava bem, gostava da companhia, mas que sentia um vazio grande por não conseguir ser o que realmente queria ser. Na família dele, assim como na minha, não havia nenhum caso declarado de homossexualismo. Os pai dele nunca admitiriam tal coisa e o casamento havia sido uma forma de tentar conter o que nem ele achava que era certo. Sem muito sucesso, é claro. Lembrei de um comentário em uma comunidade de alguém que falava que não achava legal usar mulher como escudo. Perguntei se era esse o caso e ele disse que, em parte, era sim, apesar de não ter se arrependido de ter casado. Era bom, principalmente pela idéia de ter um lar, de ter alguém com a qual, ele sabia que construía algo. Era o porto seguro, o lugar para o qual voltar todos os dias... ele completou dizendo que no final das contas, não queria se separar, apesar de saber que no fundo, o relacionamento não o bastava totalmente.
Nós conversamos por quase duas horas. Tomamos o café que ele queria e comemos crepe, aprovado por ele por eu ter dado uma boa sugestão. Falamos sobre tantas coisas, inclusive sobre os meus posts do blog. O do “casamento” e o do “aeroporto” eram os seus preferidos. Os meus também, respondi. Do último post, ele disse que eu também não poderia esperar muito dele, assim como o amigo anterior havia falado. No caso dele, era porque tinha família, tinha um emprego que exigia discrição, boa reputação, que não poderia se expor... e eu? Eu também não tinha que zelar por tudo isso? Engraçado, as pessoas tinham expectativas e se esqueciam que a outra parte também as tinha... Acho que agora você começou a falar demais...
-“Você é a segunda pessoa que me diz a mesma coisa em menos de duas semanas... mas eu não falei que esperava algo de você... eu vim vê-lo como amigo” – falei aparentando a maior traquilidade possível... apenas aparentando...
Pensei comigo: “Que doido... se eu estivesse com depressão dessas brabas mesmo, eu iria me jogar no primeiro buraco que encontrasse”.
-“Eu sei...” – respondeu ele. Minutos de silêncio...
-“Cara, eu não quis dizer isso... eu também só vim te conhecer, achei você legal, gostei de conversar com você e no fundo eu precisava falar com alguém”
-“Eu também gostei de falar com você...”
Conversamos mais um pouco, ele disse que me ligaria, e que tinha adorado me conhecer. Fiquei feliz por isso, ainda que no final das contas, fica a sensação de que as pessoas verbalizam coisas que acabam estragando tudo...
-“Para mim você não trouxe nada? Nem um cd?” e desatou a rir. Ele se lembrou que eu falei que gostava de surpreender meus amigos com presentes em ocasiões inesperadas.
-“Você me pegou de surpresa, senão eu teria preparado alguma coisa sim”.

Quando nos despedimos, ele me deu um abraço. Disse que também precisava disso. Disse que me ligaria para que combinássemos uma ida ao cinema ou ao parque, já que também adorava caminhar. Pensei comigo: “É melhor nem esperar muito... lição nº 1: não esperar demais das pessoas” – aprendida em menos de duas semanas... revisão de conceitos, sempre...
-“Você vai relatar o que achou do nosso encontro no blog?”
-“Acho que não... eu só anotaria no diário...”
-“Eu acharia legal se você escrevesse”.
-“Mesmo se eu colocasse alguma impressão minha que você não gostasse?”
-“Mesmo”.

Então, aí está. Dedicado ao Oswaldo, porque ele pediu.

Dessa observação, talvez você não goste muito, mas você falou que eu podia escrever qualquer impressão...

O Oswaldo disse que queria ver se eu era realmente o que passava no MSN e no celular. Eu disse que tirando o fato de estar no armário, de não ter coragem ainda para sequer pensar em falar para alguém, “eu era eu mesmo”. A surpresa nº 2? Ainda agora, ele disse (via MSN) que se eu o quisesse, ele topava... tinha gostado mesmo de mim... deve ser brincadeira, pensei...
-“Você é desses para casar... se eu tivesse te convidado para ir ao motel, acho que você iria corar, hehehe”.
As pessoas acham que eu sou muito certinho... faça a fama e deite-se na cama. Porém, eu não sou perfeito... eu não gostaria de sentir raiva, de sentir rancor algumas vezes... Ainda que eu tenha gostado da observação de que sou para casar e tenha me surpreendido com a observação do motel, respondi:
-“O motel eu recusaria mesmo e não é puritanismo não... É porque se acontecer vai ter que ser por amor...”
Eu não teria coragem de entrar numa relação desigual... não desse tipo... você é legal como amigo, mas ainda não deixa de ser uma canoa furada sim... ;-)

Um comentário:

Anônimo disse...

kara de mais esse relato.
Tenho um amigo que vive uma situação assim.
Vou confessar,por um instante achei que estava lendo um blog dele,mas...
Chega me arrepiei rsrrsr.
Acontecem tantas coisas em nossas vidas,que só na net encontramos alguém que entenda e que pareçam com nós.
Bom,adorei seu blog,bjs
entra no meu:
http://veranih_.uniblog.com.br