sábado, 9 de fevereiro de 2008

Para o João Hélio (na paz de Deus) :)

Qual foi a última vez que chorei na frente de alguém? Talvez tenha sido quando eu tinha 12 anos, em 1991 e meu pai disse que não iria fazer mais festa de aniversário. O meu irmão gêmeo nem ligou, até hoje ele não gosta muito, mas eu já tinha até convidado 3 pessoas. Que droga! Após conversar com a minha mãe, ela disse que eu podia dizer que ela estava doente... a última ligação foi para a minha prima. Primeiro, ela não acreditou e depois da minha insistência ela disse que iria lá em casa de qualquer jeito, só para me dar um abraço. Assim que desliguei, desabei a chorar, tanto que até soluçava, como se fosse realmente o pior dia da minha vida. Minha mãe disse para eu parar, porque ela tinha pressão alta e ia acabar ficando nervosa. Parei, mas foi um tremendo mal estar para mim. Nem chorar eu podia...

2007 – Eu acabei aprendendo a não demonstrar muito o que sentia... se eu dissesse que estava triste ou com depressão, eu teria que contextualizar e como iria simplesmente dizer que muito da minha tristeza se dava ao fato da minha indefinição sexual?

E aí, eu fui pego de surpresa num capítulo da novela Páginas da vida. Ao fim de cada capítulo, havia depoimentos reais, histórias de vida, conflituosas, emocionantes, trágicas... Nessa semana de fevereiro, um fato havia chocado o Brasil. Uma família fora assaltada: mãe e dois filhos. Ao serem rendidos, foram obrigados a deixar o carro. A mãe e a filha conseguiram sair, mas o garoto ficou preso no cinto de segurança e fora arrastado por metros, preso do lado de fora do veículo. Eu ficara chocado... Como podia haver gente desse tipo? O que leva um ser humano a ser tão inconseqüente, a ser tão hostil? Várias razões de cunho financeiro e social foram levantadas nos debates da mídia, mas nenhuma delas conseguia aplacar a minha indignação e mesmo a minha dor... sempre me comovia com essas tragédias, sempre.

A Globo filmou, então, o depoimento da mãe e do pai. Nessa noite, estávamos todos na sala: eu, minha mãe, pai e irmão. Fim da novela – depoimento nº 1: a mãe relatava o fato, estava emocionada, mas não chorava, parecia forte, apesar de saber que no fundo, ela estava muitíssimo abalada emocionalmente. Depoimento nº 2: o pai começara a falar com lágrimas nos olhos e a sua tristeza não era contida como a da mãe, mas estava totalmente à mostra. Eu não consegui me conter... comecei a chorar descontroladamente na sala... havia muito tempo que ninguém me via chorar... e eu acho que no fundo, eu chorava por muito mais coisa do que a tragédia com o garoto... eu chorava também pela minha vida, pela falta de coragem, por estar só... o meu irmão foi o único que esboçou reação, foi à cozinha, me trouxe um copo d’água e passou a mão na minha cabeça, numa espécie de consolo. Acho que aqui em casa, ele seria o único que realmente me entenderia se eu contasse. O meu pai levantou e foi para o quarto e a minha mãe não disse nada, continuou na sala fazendo crochê, não perguntou nem se eu estava bem, o que sentia e se haveria qualquer outra coisa que me deixava triste. Há muito tempo eu sabia que só podia contar comigo mesmo...
A morte de João Hélio foi há um ano. Uma missa foi celebrada para relembrar a tragédia e cobrar justiça. Os pais não compareceram e uma justificativa foi dada: eles ainda estavam muito abalados com tudo e não tinham forças para enfrentar toda a lembrança daquela situação mais uma vez.

Eu rezei por João Hélio... Deus é uma presença muito forte na minha vida e apesar da incerteza que cerca a sua existência, (seria mesmo Deus uma criação cultural?) a sua idéia me consola, me dá forças, me faz sentir menos sozinho ou desolado... com Ele eu posso contar... e se houver mesmo algo além da vida, João Hélio certamente está em paz, brincando num jardim com outras crianças, deve ter sido consolado por todos aqueles que o conheceram aqui, que partiram antes dele e que também o amaram nessa existência...

Uma idéia para 2008? Encontrar algum tipo de serviço comunitário... algo que eu saiba que posso ajudar, doar um pouco do meu tempo para fazer alguém se sentir melhor. As palavras de Roque Schneider explicam bem: “A felicidade é a única coisa que podemos ofertar sem a possuir. É o ‘milagre das mãos vazias’ de que fala o poeta Paul Claudel. Distribuir sorrisos quando o próprio amor nos foi negado. Matar a sede dos outros com nosso próprio deserto. Conceder apoio e segurança quando sofremos a mais amarga solidão. Ser chama que ilumina quando o fogo do nosso entusiasmo morreu”. Dessa vez, sou eu que preciso de sorrisos... ou abraços...

3 comentários:

Anônimo disse...

Muitas vezes, ouvi que Deus permite um mal para extrair um bem maior. Nem sempre concordo com isso, mas acho que esse caso serviu para dar uma chacoalhada nas pessoas. Muitos saíram da inércia e passaram a ser mais participativos. Enfim, cada um encara a questão de uma forma...
Quanto ao choro, faz bem. Coloca-se para fora aquilo que muitas vezes vai se acumulando por dentro. Quantas vezes pensamos: "Não vou chorar por causa disso!"
Mas haverá uma hora em que é necessário chorar para aliviar a tensão para recomeçar tudo de novo. Afinal, não estamos livres das decepções, traições e dores afins...
Abração

Anônimo disse...

Olha a ultima vez q chorei foi na terça feira,foi por bobagem,mas chorei.
O acontecimento com esse garotinho,chocou muitas pessoas,muitas dela esqueceram q esse mesmo ato já havia acontecido antes.Com milhares de garotinhos,pais,mães,irmãs,irmãos,e etc.creio que tenha feito muitas pessoas pararem e refletirem até onde somos capazes de ferir alguém por algum motivo qualquer?
E até q ponto muitas vezes machucamos alguém só para mostrar que tbm sabemos machucar.
adoro teu blog,bjs querido.

Anônimo disse...

Olá tudo bem com tu?
Vim novamente aki no teu blog só pra deixar um bjão e um abração.:):)