segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Na dor ou no amor

Eu tava numa fila no banco esperando para ser atendido. Como era para falar com o gerente, tinha umas 5 ou 6 cadeiras disponíveis onde as pessoas, em ordem de chegada, aguardavam. Duas pessoas, um homem e uma mulher, acho que da mesma empresa, falavam alto nessa fila, fazendo todo mundo escutar a conversa. Eu tentava me concentrar no livro que tinha levado, mas não conseguia e a pilha do meu mp3 tinha acabado. Resultado: o jeito foi escutar as pérolas de pessoas que realmente têm muito pouco a dizer, a não ser falar dos outros, e o pior, mal dos outros. Eu devo ter ficado uns 20 minutos ali escutando a conversa. O Senhor do meu lado até comentou: “Será que eles não poderiam ficar quietos?” Rimos, acenei com a cabeça em concordância. Ele também tentava ler. Conversa vai e conversa vem, eles começaram a falar sobre o casal que tinham visto na parada de ônibus se beijando.

- Ai, que nojo... Eram dois caras, e eles estavam se beijando de língua... o pior, os dois eram lindos, que desperdício... – disse a mulher.
- Sobra mais mulher, por isso que eu não posso namorar só com uma, tá vendo?
A mulher deu um tapa no braço dele e continuou:
- Eu tenho duas vizinhas lésbicas. Elas moram juntas há um bom tempo. Eu só respondo o bom dia delas porque preconceito é crime, né? Mas me dá um nojo tão grande quando eu encontro com elas...
- É... disse o cara. Agora virou moda...

Que saco! Na mesma conversa tive que escutar exemplos de machismo e preconceitos explícitos. Se eles não acham certo ou não aprovam, porque não ficam calados com o seu preconceito só para si? Por que eu sou obrigado a escutar? A palavra que mais me chamou a atenção foi “nojo”. Deu vontade de chegar nela e comentar: “Eu é que sinto nojo de escutar gente como você, que não consegue enxergar o outro como ser humano, como próximo...”. Mas não era um debate, fiquei na minha ainda que indignado.

De repente eles têm alguém na família que é homossexual e não sabem. Ou um amigo. Digamos que tenham algum filho que passa por algum conflito nessa momento. O discurso deles em casa não deve ser muito diferente, o possível filho deve se sentir pouco à vontade para desabafar ou dizer qualquer coisa. Vai crescer achando que é doente ou impuro, ou qualquer coisa do gênero. E o preconceito vai só sendo repassado, acriticamente. As pessoas escutam e repetem. Por que se deve ter nojo de um homossexual? O caráter de alguém não está na sua orientação, mas nas suas atitudes. A gente deveria sentir pena (não nojo) de gente mesquinha, extremista, preconceituosa, tapada, não aberta ao diálogo, que não consegue ver um palmo na frente do nariz. Acho que a vida ensina tudo o que a gente precisa. Não sei de que forma, mas creio que eles vão aprender, na dor ou no amor, a ser pessoas mais tolerantes.

Finalizando, o homossexualismo não é moda. Essa foi péssima! Sempre existiu. A história relata casos famosos. O que sempre o acompanhou foi o medo, as crendices, a intolerância, daí muitos terem que esconder, camuflar, viver vidas obscuras, pelas metades, com receio de serem plenos. O que acontece agora, ao meu ver, é que as pessoas se deram conta de sua liberdade, de poderem se expressar, de serem elas mesmas. Aos poucos, as ditas minorias se fortalecem, caem na real e sabem que até o Estado vai reconhecendo os seus direitos, ainda que de forma tímida. Espero que os dois aprendam e que possam olhar os seus semelhantes de forma respeitadora. Pode-se até não concordar com a orientação sexual de uma pessoa, mas deve-se respeitar. Só quem passa pela situação sabe que não é escolha.

Duas citações para reflexão:

“O homem está condenado a ser livre” – Sartre

“Não é triste mudar de idéia, triste é não ter idéia para mudar” – Barão de Itararé.

=) =) =) Boa semana a todos! =) =) =)

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelentes os dois últimos posts, Rod.
Triste essa realidade. "Nojo" realmente é muito forte. Se formos pensar, o sexo pode ser tanto bonito quanto nojento, independente da orientação sexual dos envolvidos. As pessoas têm a mente fechada para o que desconhecem.
Eu tento me direcionar com pensamentos parecidos com os que você colocou no final.

Viver a vida se limitando para agradar aos outros, que sequer estão dispostos a entender o nosso lado? Isso é que não.

Menino-Homem disse...

Exelente publicação Rod, só queria dar minha contribuição.
No último paragrafo vc dgitou:
"Finalizando, o homossexualismo não é moda."

Não devemos usar a palavra homossexualISMO, pois o sufixo ISMO significa doença. O apropriado é homossexualidade.

;)

Espero estar contribuindo.